Melancolia
17/09/15 - 31/03/16
Quand la crainte ou la tristesse persistent longtemps, c’est un état mélancolique.
Hipócrates de Cos
Não mais os deuses ou as Erínias noturnas que perturbam a mente dos humanos, mas o excesso de uma substância, a bile negra, a circular pelo corpo. Assim, os médicos do círculo hipocrático buscaram uma causa natural para a melancolia, em substituição à interpretação mítica. Ao contrário dos outros três humores, fleuma, sangue e bile amarela, a bile negra ou atrabile, fabricada no baço, não encontra no corpo canal de eliminação e, acumulada, afeta a mente humana. Aristóteles e seguidores associaram a melancolia à imaginação e perceberam o melancólico não sob a visão da doença, mas do gênio. Uma experiência particular da melancolia, a acedia, acometia os anacoretas que, no início do cristianismo, viviam em lugares desérticos do oriente. Por afastar o olhar da contemplação divina e deixar o campo livre para a imaginação enganosa, a acedia fazia parte dos 8 vícios que estão na origem dos pecados capitais. Sua causa não está mais nos humores gerados internamente, mas num demônio que envolve e sufoca a alma, da qual o corpo é instrumento: o demônio da acedia, que Evagrio (346-399) denominou demônio do meio dia. A acedia frequentava os monastérios, mas também, no início do século V, assolou a sociedade laica no ocidente, até final da Idade Média. Deve-se aos astrólogos árabes, que a partir do século VII traduziram e reinterpretaram os gregos, a filiação da melancolia ao planeta Saturno, planeta frio, cuja influência leva ao excesso de bile negra. O Renascimento reata com a tradição aristotélica, segundo a qual, o melancólico é antes de tudo, um homem de gênio. Uma obra testemunha esta inversão de perspectiva: a gravura Melancolia I de Dürer. Transforma-se, no início do século XVIII, em doença nervosa, antes de se tornar, para a nascente psiquiatria, a forma mais grave da depressão. Na psiquiatria contemporânea, fundamentada na pesquisa científica, ocorre um retorno à idéia de desequilíbrio, não mais de hipotéticos humores, mas de neurotransmissores cerebrais. Como entender, hoje, na perspectiva do olhar redutor do conhecimento científico, um sofrimento da mente tão carregado de significados? Pode a verdade científica explicar a verdade da mente? Este o desafio proposto aos artistas desta exposição.
Anette Hoffmann
No ECEU - Espaço Cultural e de Extensão Universitária (USP), de 17/9/2015 a 31/03/2016, visitação de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h00. Avenida Nove de Julho, 980, Ribeirão Preto-SP.
Curadoria: Anette Hoffman e Nilton Campos. Realização MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi em parceria com o Museu Histórico e Comissão de Cultura e Extensão Universitária da FMRP.
Informações no MARP (16) 3635 2421 / 3941 0089.
Programação 40o. SARP - Salão de Arte de Ribeirão Preto - Nacional Contemporâneo.